quarta-feira, 4 de maio de 2011

saudade agora é outra!

Luis Rico canta Viva mi Patria Bolivia!

Depois de umas quatro horas organizando dados de minha pesquisa, escutando algumas das entrevistas que fiz em El Alto, já quando o cansaço se fazia forte, e o fim de tarde caia entristecendo o mundo, cobrindo mais um dia chuvoso e quente em Recife, fui averiguar minha caixa de email e lá estava mais um convite para um jueves de bocaisapo. Ler aquele email foi um misto de alegria e melancolia, a saudade agora era outra. E não era só abismo, pura melancolia. Ser lembrado tão distante por pessoas que se tornaram tão queridas me levou a uma sensação estranha e nova, para mim ainda talvez indizível com precisão. Como fazia sempre, o amigo Alejandro Canedo convocava os amigos para mais uma agradável noite de quinta-feira regada à boa música, poesia, bom papo e bons “tragos” no bocaisapo, uma antiga casa colonial muito bem preservada que se converteu num bar estilizado encravado no reduto colonial mais bonito da cidade de La Paz. Como sempre a própria convocatória era ela mesma pura poesia e vinha cheia de bom humor. No inicio dessa última Alejandro faz referência ao fato de que na quinta anterior não tinha sido possível o encontro por "tradiciones ajenas", a samana santa. Reproduzo a "convocatória":

[nos debemos
un jueves

truncado fue
el anterior
por tradiciones ajenas
- lejanas, al
menos

exhortamos:
este jueves
será el
primer round
de la celebración
por el 1o. de
mayo

como buenos
desempleados,
freelancers desdentados
-por roer las
horas de
corrosiva
sobriedad
matutina-

suscribamos la convocatoria con sed

convoca: Comité Permanente por la Reconstitución de la Internacional Hedonista
borrachos del mundo, uníos!
]


A “saudade” agora não tem nada de tristeza, sempre que bate à porta, vem com a delicadeza de um sopro frio em fim de tarde, e traz na bagagem algo de alegria, uma alegria que resulta da certeza de que agora existe uma casa a mais para se visitar, habitada por pessoas com a estatura da poesia mais delicada e violenta, que vivem tão alto quanto o céu (nos seus 3600-4000 metros acima do mar) e com as quais tenho um sentimento de profunda gratidão e amizade, por ter possibilitado dentre outras coisa, um reencontro com a poesia, com a poesia-vida. Há um continente novo em meu peito depois de La Paz e El Alto.

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