sábado, 14 de novembro de 2009

video sobre o SEM LUGAR

Fui surpreendido recentemente com a notícia de que um amigo estava experimentando a criação de um curta que se propunha a ser uma adaptação livre de um dos poemas do Sem Lugar, o poema de abertura do livro. O trabalho foi terminado e tive acesso faz poucos dias a ele. O filme é de Gladson Galego, um talentoso ator de teatro sergipano que vive em João Pessoa, e que faz das suas no campo da produção áudio-visual. O filme articula, sob a temática do desamparo, do instável, do precário, um depoimento baseado numa história real, o poema em questão e a música Prece do Filho de Lucas Dourado, feita especialmente para o vídeo. Participa ainda da empreitada o poeta George Ardilles, em cena. A combinação me parece funcionar dentro das possibilidades técnicas de que se dispunha, mas o que me deixa entusiasmado é a possibilidade do diálogo que Galego propõe. Música, literatura, vídeo... se articulam criando um movimento tenso, onde se reconhecer enredado pode ser uma experiência de desconforto, do frágil, mas que não deixa, no entanto, de apelar ao escape, aos pontos de fuga (ainda que nublados).

POEMA de MARINA TZVIETÁIEVA


Lágrimas de ira e de amor!
Olhos molhados, quanto!
Espanha em sangue!
Tchecoslováquia em pranto!

Montanha negra -
Toda a luz amputada!
É tempo - tempo - tempo
De devolver a Deus a entrada!

Eu me recuso a ser.
No asilo da não-gente
Me recuso a viver.
Com o lobo regente

Me recuso a uivar.
Com os tubarões do prado
Me recuso a nadar,
Dorso quebrado.

Ouvidos? Eu desprezo.
Meus olhos não têm uso.
Ao teu mundo sem senso
A resposta é - recuso

Poema de "Versos à Tchecoslováquia" (1939). Tradução de Augusto de Campos.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Poema de Antônio Mariano

A língua dos poetas



Língua era lã-
mina
aconchegante,
e explosiva,
conforme a boca.

Maleabilíssima
a língua do poeta:
tátil às vezes,
tática sempre.

In: Guarda Chuvas Esquecidos (Lamparina, 2005).

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Poema do SEM LUGAR

a todo segundo que valha


estamos
sem
risos

todos

os
riscos

pujantes

cacos
de
vidro

andantes

2 Poemas de Astier Basílio

edição do autor
para solha

a platéia é um vazio que não veio,
mas que vaia. escrever
é a única forma de se vingar.

...

rumo

o que sobra da escolha
será sempre contra ti

os pontos cardeais
em mal contato


In: Eu sou mais veneno que paisagem (CBJE, 2008)