quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

estação bolívia: germán monje/juan pablo piñero


HOSPITAL OBRERO (2009), dirigido por Germán Monje com roteiro de Juan Pablo Piñero, é um daqueles filmes que, apesar de um roteiro aparentemente simples (e talvez por isso mesmo), alcançam uma via direta aos territórios mais sensíveis de um povo, de uma cidade; sem abrir mão, por sua vez, de uma comunicação universal imediata, pelo tema que põe em relevo, isto é: a amizade, a solidariedade, a esperança em contexto de abandono, de fragilidade.

Para o jornalista Ricardo Bajo se trata de um “filme tremendamente paceño e orgulhosamente boliviano”. Filmado em branco e preto e com uma excelente fotografia, “poucas vezes La Paz havia sido captada de semelhante maneira com seu magnetismo melancólico e alegre”. A trilha sonora, por sua vez, acompanha, com sintonia fina, o compasso dos dramas e das pequenas e grandes alegrias vividas pelos personagens. É um filme que guardo no meu acervo afetivo. Assisti há um bom tempo na Cinematece Boliviana, logo que cheguei a La Paz. Quis recuperá-lo agora porque uma conversa recente me remeteu a ele.

Narra a história de amizade que se desenvolve entre 6 homens maduros numa enfermaria do famoso Hospital Obrero, casa de saúde realmente existente e mais popular da cidade de La Paz, localizada no bairro de Miraflores.

Os personagens principais, construídos com traços muito peculiares que remetem a pessoas comuns que circulam cotidianamente pelos recantos mais populares da cidade de La Paz, são: o professor Aguilera, um velho treinador e ex-jogador de futebol acometido por um câncer avançado; o gordo Foronda, diabético e apreciador de poesia; Waldo Paco, funcionário público aposentado, enfermo e abandonado pela esposa; Gregorio, um camponês aymara que sofre um grave acidente na região dos Yungas, e busca complementar seu tratamento com uso de plantas medicinais; Carmelo Suarez, um beniano (natural do Departamento de Beni) que vive um conflito familiar com uma filha que é funcionária no hospital e, finalmente, Pedro Dionísio Murillo, um velho boêmio bem vivido de Villa Armonía. Todos os atores que interpretaram estes personagens são amadores, dois taxistas, um professor de artes plásticas e dois aposentados.

Pedro Murillo se interna de emergência e na enfermaria vai se torna o líder dos outros peculiares personagens. Num contexto de enfermidades, desamparo, solidão e recordações que povoam as cabeças dos pacientes daquela enfermaria, cresce um forte sentimento de amizade. Os personagens passam a compartilhar sentimento de perda, a possibilidade da morte, rejeição e esperança. A enfermaria de um imenso hospital, onde dia a dia centenas de pessoas estão lançadas à própria sorte, torna-se um lugar de humanidade transbordante, onde pequenos trambiques para contornar as restrições médicas são necessários para um último trago, para uma última dança.

Ricardo Bajo me parece captar bem a homenagem que a película faz ao povo boliviano e, sobretudo, paceño. De acordo com Bajo, o filme fala do que “uno conoce y siente, toca la fibra y el sentimiento de todo el país. (…) Y el mérito corresponde, en gran parte, al guión acertado de Juan Pablo Piñeiro, parido a seis manos junto al director Germán Monje y Miki Valverde. El amor por lo lindo del fútbol y los dos grandes de La Paz, Bolívar y The Strongest (…), la pasión por la mo
renada [música folclórica boliviana que remete às festas de carnaval], el cariño por los característicos micros paceños [velhos Dogdes coloridos, com mais de 50 anos, que circulam por algumas cidades bolivianas cumprindo a função de transporte público] y sus cuestas de ida y vuelta, el trago confraternizador, su particular humor, la fiesta, el preste... todo el mundo propio de Piñeiro (destilado en su novela Cuando Sara Chura despierte), tan paceño como universal, se filtra a lo largo del metraje, acompañado por un sonido impecable (Sergio Medina) y una banda sonora contagiosa y que se queda en el disco duro de la memoria durante horas, obra de la banda de rock Reverso, liderizada por el también actor Christian Mercado.”

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