sábado, 26 de fevereiro de 2011

El Alto entre nuvens

Hoje a cidade de El Alto amanheceu dentro de uma imensa nuvem. Por todo lado, uma brancura fria e molhada a tudo domina. Uma neblina fina cai sem parar. Estamos a 4.000 metros acima do nível do mar, no altiplano boliviano, numa das cidades mais altas do mundo, onde o vento frio serpenteia violentamente pelas ruas e avenidas, sem que se lhe ofereça nenhuma resistência, castigando, cotidianamente, os corpos da gente de origem aymara. O frio quase trava o movimento dos dedos da mão desprotegida. Sair é sempre um precipício, um risco, quando o dia não escapa entre nuvens. Mas a maioria não tem opção, é seguir. Proteger-se como for possível, e tocar a labuta do trabalho informal, do trabalho precarizado da grande maioria da gente que ali habita. É preciso matar o leão do dia, levar o pão para casa. Talvez hoje retornem um pouco mais cedo, talvez não. Eu podia, e desisti deste sábado, voltei para casa, mas antes, comprei um par de meias, água e café. A Pachamama, complacente, parece ter decretado feriado para o descanso dos corpos cansados de seus seguidores, mas eles resistem em não voltar para casa.

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