sexta-feira, 1 de julho de 2011

poemas de lau siqueira

poemas do livro Poesia Sem Pele (2011)
<
conceito



não alongo
poemas

apenas curto

no máximo
s u r t o



condição
humana



pequenas multidões
no desamparo das horas
sumidas


pequenos desastres
e uma extrema
coragem



bizarro



olhar
ecoado
no espelho

os dias passam

sem que a vida
devolva nenhum
dos pedaços


nota>

Com Poesia Sem Pele Lau Siqueira confirma, uma vez mais, a vitalidade de sua poética, sempre aberta às possibilidades expressivas da linguagem, marcada pela abertura a procedimentos construtivos das vanguardas (mas sem se esgotar neles) e por uma consciência construtiva que lhe conduz à elaboração de poemas onde se explora, no limite, a palavra exata, signos poéticos precisos, o verso denso. Consciência construtiva presente também em suas incursões metapoéticas (ex. o poema “conceito”, acima). Poesia Sem Pele vem atravessado ora por uma atitude desabusada, explorando a coloquialidade da linguagem cotidiana, ora por meditações existencialistas, ora por uma atitude denunciativa das mazelas sociais. Numa atitude de engajamento com o mundo presente, traz ainda, articulada em boa parte dos poemas, a percepção do tempo presente, da velocidade, da fragmentação, da precariedade do tempo no mundo contemporâneo. Do tempo atropelo que nauseia e entorpece, e que interdita o acesso ao silêncio. O poeta atento parece querer captar o grito que se elabora dentro do silêncio, o gesto, a palavra pulsante intermitente, incerta e fugidia, mas preste a explodir, forjar-se poesia. E o faz. Como diz em “poetria”, “poema é face descoberta / de tudo que pulsa // poema é atitude permanente / em tudo que passa // (que massa)”. Poema no encalço de um efeito de liberação. E para lográ-lo, Lau recorre a imagens da natureza: o pássaro, as asas... signos de liberação possível. Exemplo é o poema: “vvvvvvvvveloz / a vida pássaro / por nósssssss”. O poeta retém a velocidade que passa e, numa leitura possível, parece contemplar, no limite de quem resiste, o pássaro sobre nossos gestos apressados, uma imagem retida por fora do turbilhão nauseante no qual estamos metidos, e que nos chega como signo de liberação possível, efêmera também, porque o pássaro logo passa, e não empresta suas asas... Mas algo certamente se elabora dentro do silêncio.

 

Um comentário:

Lau Siqueira disse...

eu acho que poesia é isso aí que vc escreveu. eu acho que eu tenho certeza. eu acho que é um achado. eu acho que fiquei emocionado...

Juro que não é vaidade. Deve ser micolagem (boiolagem fora de época)...

Ou quem sabe coisa da idade.

:)))


Muito grato, poeta.