sexta-feira, 29 de julho de 2011

poema de haroldo de campos

aproximações ao topázio - 1


um leão 
microcéfalo
explode:

a palavra
topázio 

poema inédito

INÉDITO <




OS PÊLOS ERIÇAM AO TOQUE
     TEU GOVERNO EM PÂNICO


A LÍNGUA PROSPERA O GOLPE


> um poema meu, recente.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

poema de sérgio alcides

Combustão


Uma cidade cercada de incêndios.
Vivemos debaixo de fuligem nesta seca.
Há muita cortesia, como se nada.
Como se as narinas não ardessem.
E os troncos acesos dessem flor.
Também agarro algum crepitar de meu.
Sob o céu amarelo, sob a lua roxa.


> poema de Sérgio Alcides, do livro O Ar das Cidades, 2000.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

poema do sem lugar

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DE VEZ


lua em prumo de oceano raso
e uma maré de pernas
sem bússola

   abaixo

: santos que somos
  anjos que somos
  insanos
  demônios que somos
  apenas humanos


poema do meu livro Sem Lugar (2007)

sexta-feira, 15 de julho de 2011


>
Silvio Rodriguez para Chá. Música besta que não larga.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

poema de ana rusche



rotina


o tempo

num envelope grande, pardo, lacrado.


:
do livro rasgada, de 2005

terça-feira, 5 de julho de 2011

poema de Alberto da Cunha Melo

>

CANTO DOS EMIGRANTES



Com seus pássaros
ou a lembrança de seus pássaros,
com seus filhos
ou a lembrança de seus filhos,
com seu povo
ou a lembrança de seu povo,
todos emigram.

De uma quadra a outra
do tempo,
de uma praia a outra
do Atlântico,
de uma serra a outra
das cordilheiras,
todos emigram.

Para o corpo de Berenice
ou o coração de Wall Street,
para o último templo
ou a primeira dose de tóxico,
para dentro de si
ou para todos, para sempre
todos emigram.

:
 
poema de poeta pernambucano Alberto da Cunha Melo (1942-2007), do livro Noticiário, de 1979, disponível em edição eletrônica comemorativa dos 40 anos de atividade literária do poeta em 2006. O livro pode ser acessado na íntegra clicando aqui. 
 
o poema Canto dos Emigrantes foi selecionado por José Nêumanne Pinto para compor a antologia Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do Século, publicado 2001. E musicado pelo Cordel Fogo Encantado.
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poema de Jairo Cézar

>

NOSTALGIA
         a Linaldo Guedes



Ouvir um vinil é sentir na pele
A agulha que cose a mortalha
Da nota que viveu sem saber
Que um dia, tão viril, viria ceder.

:
 
Poema do poeta paraibano Jairo Cézar, do livro Escritos no Ônibus (2009), selecionado e publicado dentro do programa "novos escritos" da Prefeitura Municipal de João Pessoa. Agradeço mais uma vez a Jairo pela remessa do livro.
 
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sexta-feira, 1 de julho de 2011

poemas de lau siqueira

poemas do livro Poesia Sem Pele (2011)
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conceito



não alongo
poemas

apenas curto

no máximo
s u r t o



condição
humana



pequenas multidões
no desamparo das horas
sumidas


pequenos desastres
e uma extrema
coragem



bizarro



olhar
ecoado
no espelho

os dias passam

sem que a vida
devolva nenhum
dos pedaços


nota>

Com Poesia Sem Pele Lau Siqueira confirma, uma vez mais, a vitalidade de sua poética, sempre aberta às possibilidades expressivas da linguagem, marcada pela abertura a procedimentos construtivos das vanguardas (mas sem se esgotar neles) e por uma consciência construtiva que lhe conduz à elaboração de poemas onde se explora, no limite, a palavra exata, signos poéticos precisos, o verso denso. Consciência construtiva presente também em suas incursões metapoéticas (ex. o poema “conceito”, acima). Poesia Sem Pele vem atravessado ora por uma atitude desabusada, explorando a coloquialidade da linguagem cotidiana, ora por meditações existencialistas, ora por uma atitude denunciativa das mazelas sociais. Numa atitude de engajamento com o mundo presente, traz ainda, articulada em boa parte dos poemas, a percepção do tempo presente, da velocidade, da fragmentação, da precariedade do tempo no mundo contemporâneo. Do tempo atropelo que nauseia e entorpece, e que interdita o acesso ao silêncio. O poeta atento parece querer captar o grito que se elabora dentro do silêncio, o gesto, a palavra pulsante intermitente, incerta e fugidia, mas preste a explodir, forjar-se poesia. E o faz. Como diz em “poetria”, “poema é face descoberta / de tudo que pulsa // poema é atitude permanente / em tudo que passa // (que massa)”. Poema no encalço de um efeito de liberação. E para lográ-lo, Lau recorre a imagens da natureza: o pássaro, as asas... signos de liberação possível. Exemplo é o poema: “vvvvvvvvveloz / a vida pássaro / por nósssssss”. O poeta retém a velocidade que passa e, numa leitura possível, parece contemplar, no limite de quem resiste, o pássaro sobre nossos gestos apressados, uma imagem retida por fora do turbilhão nauseante no qual estamos metidos, e que nos chega como signo de liberação possível, efêmera também, porque o pássaro logo passa, e não empresta suas asas... Mas algo certamente se elabora dentro do silêncio.