quarta-feira, 27 de abril de 2011

poeta Ed Porto é a próxima atração do projeto Parede Poética

> DIVULGAÇÃO:

[Será aberta a partir de 2 de maio na Biblioteca Central da UFPB- Campus I, sediado em João Pessoa, a próxima exposição do Projeto Parede Poética, com visitação nos três turnos. A produção é do Setor de Cultura do Sesc Centro-João Pessoa.O poeta escolhido para a primeira etapa do projeto em 2011 é Ed Porto e seus poemas contam com imagens fotográficas de Lu Maia.

Os banners medem 1,8 m X 1,2 e ampliam as possibilidades de difusão de um dos segmentos mais férteis da literatura paraibana, considerando que desde a sua "recriação", ocorrida em 2009, as paredes poéticas do Sesc são exposta em espaços de massiva visitação pública, tais como a Estação Ferroviária ( CBTU) Estação Ciência Cabo Branco, Casarão 34 ( galeria municipal) e Funesc-Fundação Espaço Cultural José Lins do Rêgo. Além da Área de Lazer do Sesc Centro, sediada em João Pessoa.

As "paredes" já estiveram expostas em eventos como a Feira do Livro de Boqueirão, cidade que funciona como referência para atividades cultural produzida na região do Cariri paraibano, e Salão Internacional do Livro, realizado em dezembro do ano passado no Espaço Cultural.

Contatos para qualquer possível exposição do Parede Poética, através do Setor de Cultura do Sesc, localizado na Rua Desembargador Souto Maior, 281, Centro. João Pessoa-PB. fone 32083158 e 99960183.]

estação bolívia: mariano ramirez

LA DIOSA-DEL-MARTILLO



Abran paso,
y mantengan la calma
La Diosa-del-Martillo
Se acerca corrosivamente.
Demoliendo los interiores
Terrestres.
Quebrando los medrosos
Montes de concreto y vidrio.
Fracturando los ábsides de la Divinidad,
Coronándose con la almena
Antigua, de piedra fortalecida.
Los espacios intercolumnios,
Son derribados por la fuerza
Trituradora de sus brazos dominantes.
Los horadares profundos,
Las fisuras pétreas,
Son huellas de su trayecto
Por el caos dimensional
Y su conculcación de la naturaleza.
Donde los mirmidones
Caen como ripios
En el agujero negro
E ignoto de su boca.
Su rostro es de anatema humana.
Tiene la mirada de fuego infinito
Con aliento de cianuro.
Forjada en los yunques
Del núcleo intrínseco-terráqueo.
Aleación anatómica,
Por siete metales de universo,
Constelado en crisoles ferruginosos.
La placa de metal laminado,
Bordado con finos hilos metálicos
Calentados al rojo vivo,
Envuelven su cuerpo irascible,
Atizado en el desastre abrasador.
Ella es el Martillo,
Que engrilleta el presente
Aprisionando al destino
En los momentos nefastos.
Portadora de destrucción necesaria,
Bebe la copa, con hiel vehemente.
Su lengua afilada,
Proclama el cambio drástico
De los ejes vertiginosos.
La Gran Mensajera
Resplandece
Entre los horizontes telúricos,
Acompañada por el Nuevo Aeon
Develado entre los sótanos
Interiores del conocimiento
Oculto y embozado,
De la humanidad.



Mariano Ramírez J., inédito ainda em livro, frequentador assíduo dos jueves de bocaisapo, é, além de bom poeta, um ótimo escultor. Seu texto poético é fortemente marcado pelo seu labor com peças de metal contorcido que pode transformar, com auxílio de maçaricos e outros instrumentos, em máscaras, personagens do carnaval boliviano, ou mesmo numa mulher seminua carregando uma cruz e se confundido com uma imagem de Jesus em seu calvário. Impossível ler seus textos e não se remeter às esculturas que conheci, aos metais contorcidos dando forma ao dançante de saya, manifestação típica das comunidades afrobolivianas. Escritura e escultura em simbiose, onde violência e delicadeza, homem-metal-texto fundem-se linguagem-poesia. Na foto ao lado, Mariano ler para o deleite dos bocaisapianos.      

terça-feira, 26 de abril de 2011

breve antologia da poesia paraibana na zunái

Não há antologia literária que não seja arbitrária. Pensá-la como completamente representativa é desmedido porque nenhuma predileção estética/temática do antologista (leitor/crítico), por mais criteriosa e abarcadora que seja, (pode) dar conta da multiplicidade da expressão poética de nossos dias. Há sempre um excesso que fica de fora e, muitas vezes, descontente.

O problema talvez seja maior quando a antologia é organizada tomando como critério articulador a produção literária em determinada região, cidade etc. Do meu ponto de vista, o "critério regional" impõe ao antologista além do esforço em conhecer com uma profundidade necessária a "produção regional" em sua múltipla expressividade, a disponibilidade de abrir mão de determinada preferência estética que seja demasiado restritiva dessa produção regional, isto, claro, se além do "critério regional", outro critério associado não esteja evidente.

A Revista Zunái, umas das mais importantes na literatura brasileira, traz em seu último número uma breve antologia da poesia paraibana contemporânea, organizada pelo poeta e crítico literário Amador Ribeiro Neto, que tem gerado descontentamentos entre alguns leitores e poetas paraibanos. Os descontentamentos, por sua vez, recaem menos nos nomes selecionados, do que em afirmações de Amador para justificar ter selecionado apenas poetas radicados na cidade de João Pessoa, a capital do estado. Ainda no início do seu texto introdutório à antologia, Amador nos diz
[Não que no interior não haja poesia: há e muita, mas ou é poesia popular (do tipo cordel, que não nos interessa nesta antologia) ou perde-se em formas e fôrmas anacrônicas. Ao menos esta é a impressão que tal poesia tem me causado. Ainda não consegui distinguir um poeta interiorano paraibano que ombreasse com os que aqui vão selecionados.]
Sobre este aspecto escreveu Thiago Fook Braga um comentário no blog de Linaldo Guedes que me parece bastante acertado, identificando 3 problemas fundamentais em algumas afirmações de Amador:
[1) desinformação: a poesia do interior vai além do cordel e do soneto; 2) preconceito: a proposta é de uma antologia da poesia paraibana, e não do verso livre ou da poesia verbovocovisual; logo, faltou argumento convincente para excluir o que se considera poesia popular ou de formas anacrônicas; 3) presunção: a poesia interiorana foi considerada inferior com base em argumento vazio (ser cordelística ou usar formas anacrônicas).]
Apesar desses problemas não questionaria nenhum dos 11 poetas viventes no território paraibano selecionados por Amador para compor uma antologia contemporânea da poesia paraibana. Acredito que na sua seleção conseguiu reunir uma diversidade de expressões estéticas e temáticas com bastante vitalidade na poesia paraibana. Alguns deles são inclusive referências de primeira linha num "diálogo" que muitos poetas locais têm travado para assegurar um bom caminho em seu labor criativo. Por outro lado, como não poderia ser diferente, sinto falta de alguns nomes que me parecem indispensávies, como por exemplo, Astier Basílio e Políbio Alves, para ficar apenas em duas vozes vigorosas em nossa literatura.


Segue abaixo o texto de Amador na íntegra:

BREVE NOTA SOBRE A POESIA PARAIBANA CONTEMPORÂNEA

Amador Ribeiro Neto

Pela diversidade formal e temática, a poesia paraibana contemporânea vai muito bem, obrigado. E esta é uma poesia litorânea, centrada, principalmente, na capital, João Pessoa.

Não que no interior não haja poesia: há e muita, mas ou é poesia popular (do tipo cordel, que não nos interessa nesta antologia) ou perde-se em formas e fôrmas anacrônicas. Ao menos esta é a impressão que tal poesia tem me causado. Ainda não consegui distinguir um poeta interiorano paraibano que ombreasse com os que aqui vão selecionados – todos moradores da capital, ainda que vários nascidos no interior.

E não poderia ser diferente: João Pessoa vive, respira, transpira, agita, move-se ao motor da poesia. São inúmeros os eventos, que mobilizam um bom público, ao redor da produção paraibana contemporânea.

Não me refiro apenas aos saraus não, mas aos debates, depoimentos, apresentações musicais e breves dramatizações que sempre ilustram estas reuniões que podem se dar tanto em bares, restaurantes como em casas de poetas.

Dois poetas, aqui representados, têm tido um papel especial na agitação cultural da cidade: Antonio Mariano e Linaldo Guedes. O primeiro, com a série "Tome poesia" que agora, ampliando o leque de abrangência, intitula-se "Tome poesia, tome prosa". Linaldo Guedes comandou durante bom tempo o "LiterArte", que tinha na música e no teatro os campos mais destacados para a poesia. Susy Lopes, há anos dirige e encena poemas num dos barzinhos mais badalados da cidade. Como ela é atriz, tudo que toca vira teatro. E com ótimos resultados.

Como o leitor verá, a mostra da poesia paraibana contemporânea aqui reunida é um painel de temas e linguagens os mais variados. Há poesia condensada, nominal, parcimoniosa, contida, quase monossilábica. E há a poesia discursiva, derramada, dando asas à oralidade desbragada.

Há um bocado de poesia erótica, sensual, libertina. Este ramo da lírica floresce firme e forte entre nossos poetas. Há a poesia que tematiza, direta ou obliquamente, a realidade sertaneja, tão impregnada no cotidiano de quem vive na praia mas nasceu, ou tem familiares e amigos no sertão e no cariri.

Há a poesia de cunho filosófico, brincando com os delicados e perigosos limites entre poesia e filosofia. Mas saindo-se muito bem desta luta de espadas. E há a metapoesia, centrada no ofício de fazer pensar a própria linguagem poética, como se o mundo fosse invadido pela arte e o espelhamento vida-arte fosse a melhor metáfora para dar conta da vida e da obra.

Há a poesia de intertextualidades literárias, apropriando-se do viés mais (ou menos) conhecido de poetas mais (ou menos) conhecidos. Neste ludismo impera o deleite do dialogismo sacado a quatro paredes (ou mais).

Há a poesia-coisa, marcadamente devedora das várias performances da Poesia Concreta. A folha de papel, objeto que se oferece à dança visual dos versos interrompidos e das palavras-valise justapostas.

Há a poesia de objeto perdido. O desejo configura-se como tema e forma a serem buscados, mesmo sem um eu-lírico definido ou que dê pistas de busca. Assim, o desejo fica adiado. Lê-se esta poesia como um viajante que rastreia uma estrada desconhecida. Mas há também a poesia de cunho jornalístico, direta, franca, quase ríspida de tão transparente. Uma poesia que joga com as molduras da informação clara e da ambiguidade necessária.

Há a poesia que dialoga artistas e códigos de outras artes: cinema, música, teatro, etc. E há a poesia de voz feminina, que embora tenha uma única representante nesta antologia, o faz de forma tão marcante quanto singular. Uma mulher que vê o mundo e o sente como poeta, acima de tudo. Mas uma poeta de saias e olhares sedutoramente irresistíveis. Para questões pessoais, interpessoais e sociais.

Enfim, a poesia paraibana contemporânea não deve nada a ninguém. E, repito, vai muito bem, obrigado. Boa leitura a todos. É isso.

http://www.revistazunai.com/poemas/poesiaparaibanacontemporanea_amador_ribeiro_neto.htm

> poetas selecionados: http://www.revistazunai.com/poemas/index.htm

segunda-feira, 25 de abril de 2011

poema inédito (do projeto tempo grave)













> SEM TÍTULO

o olho que vê
vem perdendo suas pernas


e manco, vê o mundo manco, 
que o espreita


outro, táctil-sonoro,
não obstante, se adensa


medra dentro
em câmera lenta


[DO PROJETO TEMPO GRAVE]

* a foto é do olho de chá.

sábado, 16 de abril de 2011

poema de lau siqueira


aos predadores da utopia


dentro de mim
morreram muitos tigres

os que ficaram
no entanto
são livres



a los predadores de la utopía


dentro en mi
murieron muchos tigres

los que se han quedado
sin embargo
son libres


Tradução Alberto Moby

O poema Aos Predadores da Utopia de Lau Siqueira é um desses poemas raros que atingem gentes de gostos os mais variados pelo que nele se produz de contentamento literário e libertário. Foi um dos poemas de brasileiros que, com tradução disponível para o espanhol na internet, fiz chegar aos amigos bolivianos, poetas e apreciadores de literatura. O que me chamou a atenção foi o fato de o poema ter ido mais longe do que imaginava e por ter me valido alguns agradecimentos, inclusive por parte de duas pessoas para as quais não tinha remetido o poema.

Poema do livro O Guardado de Sorrisos, de 1998. 

para conhecer mais de Lau Siqueira:

estação bolívia (ainda e sempre): alejandro canedo


alojamientos



1

próximos a terminales estaciones de buses discotecas y cantinas
los albergan edificios casi nuevos
conventillos transfigurados con dos o más patiecillos desolados o tal vez uno solo amplio y hostil que oficia en el día como garaje
inagotables parecen los cuartos donde compartir habitación y sábanas sin recambio

                                                          Titulares: Alojamientos de tres zonas 
                                                                         son ilegales y antihigiénicos
                                                                         El “ayudante” de un alojamiento contó a
                                                                         este medio que las sábanas se cambian 
                                                                         cuando tienen “mala cara”, tras ser
                                                                         utilizadas por más de una decena de
                                                                         usuarios. (La Prensa, La Paz, 24 de
                                                                         febrero, 2011)

2

están sus corredores saturados con lavandina y el humor agrio del portero por
abrir y cerrar las puertas a seres remotos durante noches y madrugadas aunque
feriado
despulmonándose maldurmiendo mediando trifulcas entre contrabandistas
policías corruptos amantes furtivos borrachos prostitutas
                                                             
                                                           Este medio reveló que algunos se
                                                                          convirtieron en moteles populares y  
                                                                          lenocinios. La Gobernación comenzó a
                                                                          programar operativos continuos con la
                                                                          Policía. Pero tropieza con la filtración de
                                                                          información: “alguien” alerta a los
                                                                          propietarios cuando se va a desarrollar
                                                                          un operativo. (Ídem)

3

conjuran alguna versión de tu soledad albergando caricias clandestinas entre
sábanas percudidas camastros desvencijados por el uso y abuso
recuerdos olvidados a propósito
crónicas de venéreos abortos anunciados
amores impunes y baldíos

                                                                   tu vientre vacilante
                                                                   aun está en mi cuarto
                                                                   cuando sueño tu cuerpo
                                                                   (Vamberto Spinelli Jr)

4

dice un grafiti en el baño de un alojamiento en La Paz:

            sigue está amaneciendo
            como ayer y anteayer
            ¿seguirá siendo así?
            quién sabe
            al menos eso parece
            luego oscurecerá

                     puedo asegurártelo


5

ahora las sábanas de tu cama pueden ser más higiénicas
incluso parecer más cálidas
pero también están percudidas


             como las caricias de tu mujer




Alejandro Canedo, inédito ainda em livro, é poeta em tempo integral, na escritura, no violão e voz virtuosos e na amizade. Acima uma foto na qual Alejandro ler um de seu poemas num jueves de bocaisapo, sob audiência atenta do poeta Jorge Campero e de Cláudia Barrionuevo.    

quinta-feira, 7 de abril de 2011

terça-feira, 5 de abril de 2011

miradas paceñas






















La Paz: cidade-poema por todo lado; uma ebulição do poético impregnado em cada gesto, nos acenos de mão e na contra-mão, o seu sorriso mais honesto; é um nervo exposto, aberto, intrépito que não cessa, de uma gente alada, conclamando mais e mais atos de liberdade poética. 

...

Acima mais uma das muitas interveñções urbanas e anônimas que capto nas calles do centro da cidade.  

sábado, 2 de abril de 2011

poema do SEM LUGAR em espanhol















VULNERABILIDAD PROGRESIVA


a veces
tengo voluntad
de explosión


: KAMIKAZE
que arde


pero el petardo
dice:


- cobarde
no!


 
foto de Sebastião Salgado